Ouço o grito de dor da circuncisão, da mutilação das muitas que são brutalmente renegadas ao prazer. O grito final das que sente o corpo em chamas pelas mãos do próprio marido. O grito silenciado das meninas que são fonte de prazer de tios, pais, avôs, padrastos e primos. Ouço o grito de socorro das prostitutas nas estradas submetidas às barbáries dos clientes sem ter a quem recorrer. O grito considerado crime da mulher que aborta precariamente, sem recursos, sem apoio, com medo e contra as leis. O grito de ódio da que trabalha mais, melhor, com competência e ganha menos. Gritos de lésbicas que não podem amar sem recriminação, que tem o amor que sentem perseguido, que não são vistas como mulheres simplesmente por amá-las tanto, complexo e hipócrita, não? Ouço gritos de mulheres, que são tratadas como lixo pelo pai, marido, irmão, patrão, pelas regras massacrantes de um deus feito para homens, pelas leis misóginas feitas por homens engravatados que odeiam e temem as mulheres.
E eu também preciso gritar. Ser a voz das tantas que grita e passam despercebidas, tem suas vidas e vozes anuladas. As mulheres gritam e tem motivos para isso, é o grito do sexo reprimido que não pode falar lutar sequer existir senão a sombra do sexo repressor. Mulheres gritam. E não é um grito de felicidade.
(... e por trás de todos esses gritos sempre existe um homem. Sorrindo sarcasticamente e nos perguntando: o que mais reivindicar, por que tanto gritam suas histéricas?).
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