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Estou na linha entre a loucura e a sanidade. Piso descalça em cacos porque nao posso sentir nada além do que as palavras nao ditas. Rabisco e rasgo linhas repetitivamente, sao tintas e cargas de canetas velhas, achadas e roubadas. Desperdiço o tempo. Nao amo mais as horas. Nada tenho a perder. Entende? Cheguei ao fundo do poço, onde só os perdidos já chegaram. Estou enlouquecendo. Tenho o sangue em ebuliçao e vejo pessoas se transformarem em letras pelas ruas. Todo aquele carinho, virou vazio. O que tenho de bom, já nao sei. Nao quero mais permanecer por perto de sua companhia covarde, menina covarde. Devolva minha lucidez e siga com seus medos e suas barreiras, coloque-os numa caixa de sapato que guardo minhas cartas e suma daqui. Ou talvez fique, quem vai sumir sou eu. Da realidade que  confunde e me torna cada dia mais nociva a mim mesma. Pode ficar, guarda bem guardado toda essa covardia que me aniquila devagar, essa calmaria e esse jogo sujo nao faz mais parte do meu mundo. Já te contei que nasci pra ser corajosa? Por isso sou tao fracassada, porque tenho coragem de tentar. Tantas tentativas já levaram tudo o que eu tinha, ainda me resta o prazer de andar pelas ruas sendo uma desconhecida numa tarde de sol escaldante. Eu só quero voltar pro simples. Cheia de plantas que crescem independente de mim, cheia de bichos que sao corajosos como eu, cheia de gente cansada de gente. Já me perdi nas palavras que escrevo agora, nao sei o segredo delas, nao sei de segredos, adoro mistérios. Sei que quando digo pra voce ir, quero mesmo que vá, mas que volte um dia. Nao gosto de coisas definitivas, exceto pelos riscos na pele. Nao gosto de muitas coisas, mas gosto de voce.

E se os loucos morrem aos vinte e sete, ainda me resta dois anos. 

Vou viver.