Quase sem marcas.

Esperava que fosse exatamente assim. Ela tinha o
dom pra ser ignorada, não se surpreendia mais com a imaturidade das pessoas,
talvez porque ela mesma ainda fosse imatura e ridícula, com essa mania de
tentar consertar as coisas. E de ficar triste, tão triste, a ponto de sentir-se
oca por dentro e permanecer parada por horas, como uma estátua suja inaugurada
no dia dois de novembro e esquecida na avenida paulista. Entristecia-se, mas
sofria calada, porque é assim que as coisas têm de ser, porque ela sabia que não
existem contos de fadas, e que mesmo as pessoas mais queridas podem ser cruéis
a ponto de fingirem não enxergá-la. Ela sabia que as pessoas eram hipócritas,
pequenas e cruéis, e só sofria porque vez ou outra se esquecia disso.

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