°

Deixou seu cheiro na minha boca, a sua língua no meu ventre
Nenhuma foto, nenhum recado
Só as lembranças do que só nós sabemos
Segredos, socos, sexo e sacanagens
Eu não disse nada, ela não disse nada
Me olhou querendo dizer, mas orgulhosa e confusa, não disse
Caladas permanecemos, sem noção do tempo
O telefone tocou ela levantou, se ajeitou, me beijou e me apressou
Me deu o abraço mais dolorido, o sorriso mais lindo
Cada uma desejando que meia hora durasse um dia todo
Ao entrar no ônibus quebrou o silêncio:
-Escreve pra mim
Balancei a cabeça, negando, ela rebateu:
-Sobre mim, né...
Eu fiz que sim:
-Você sabe, e sorri.
Na curva sumiu, não acenou, sequer me olhou.
Segui na chuva, meio perdida e vazia
Arrependida e transtornada por mais uma vez não ter dito nada
Meu telefone tocando, era ela:
-Você sempre continua.
Parecia estar ali, lendo meus pensamentos e sentindo minha confusão
-Pois é, você também.
Ela não respondeu, mas sentiu o que eu senti
Aquela força e  carinho inexplicáveis entre duas mulheres.
O onibus partiu, a chuva passou
E o que resta entre nós é saudade, dilacerante saudade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário