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Ela tinha essa mania, proposital, de afastar as pessoas que fingiam gostar dela. Só lhe interessava sinceridade. Nada de meias verdades. É que ela era tão inteira, não era fatia nem pedaço, era assim: inteirinha da silva. Ás vezes ela sentia um aperto que doía e um nó na garganta que sufocava, mas estava certa de que não era doença, era só a mais pura e repentina tristeza. E passava. Sempre passa.
E ainda assim ela seguia, pois tinha uma vida difícil demais pra se abalar com mentiras e descasos, tinha uma vida corrida demais pra parar e ver o mal que as pessoas que a julgavam podia lhe causar. Então,  ia vivendo assim, olhando pra frente, passo firme, quase sem sentir. E por isso tudo era um vulcão em erupção, porque ela só notava as coisas prestes a explodir. E explodia, transbordava. Ela era brita  e não areia, não se desmanchava com qualquer onda. Só escorria feito lava. Ela era parede pré fabricada: dura e crua. Apesar de tantos medos e daquela insegurança que a tornava igual a todos outros, ela insistia em não ser mais uma. Gostava da mesma garota há quase um ano, ou mais ( não era boa com datas ), bebia as mesmas cervejas baratas nos mesmos botecos sujos. No fundo ela sabia que era só  uma menina confusa, encantada por uma garota misteriosa, massacrada pela família hipócrita, mal vista pela sociedade cruel, batalhando, vivendo. Amando. Ah como ela amava! E batia os pés, rangia os dentes, lutava, era diferença.
Ela sabia o seu espaço no mundo. Mas ele era tão pequeno, quase um útero.
Então ela chutava e chutava e chutava, todos os dias.
Depois nascia, radiante.

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