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Já não sou a mesma de ontem.
Eu leio poemas lindos e quando fecho os olhos faço deles música e motivos. Pulo da janela do último andar de braços bem abertos sorrindo para o vento que bate de frente a face, e todos ouvem minha gargalhada, ecoa pelos bairros e becos, assusta os fracos e encoraja os fortes. Eu encaro a morte com arrogância, olho no olho, e me arrepia a espinha, mas eu não abaixo a cabeça, sou tão sozinha quanto ela. Hoje eu desisto da minha garota, e nem sangro. Vou até a esquina e observo drogados, ouço histórias de quem encara por opção o frio e unem prazer e dependência, e assim como eles também quero que se foda esse papo de dignidade e cidadania. Esse papo de paixão e envolvimento, nada mais me cativa. Só a poesia. Vadia e desdentada, rabiscada em papeis de pão e cadernos sujos, tradutora de angústias e solidão, todo poeta é assim: maldito e desesperado. A menina adormeceu, bateu de cara na calçada e atravessou o imaginário. Mas a gargalhada dela está presente e me faz companhia todas as noites, mesmo que não queira sentir, ela sente. E me faz sentir. Porque eu sou ela também. Dormindo de olhos abertos, de braços abertos, em queda livre.

Mas a vida é um livro, e ontem é página lida.
Hoje eu sou diferente. Eu não tenho medo.
 Você acredita?

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