O que sobra da noite...

Cansei das perguntas e não sei as respostas. Eu só estava sendo hipócrita, fingindo felicidade em um copo de cerveja. Não sabia se eu era boa ou má, não sabia se eu era santa ou puta, não sabia de muitas coisas. Só que ela estava ali, com seu sorriso de bruxa, me enfeitiçando, me paralisando com os olhos. Ela sempre foi a única capaz de me acanhar, de me fazer perder a fala, me deixar acuada no canto da mesa, era parte do seu show acompanhar cada um dos meus movimentos. Não que fosse tão espetacular, mas de todos ali, era eu a rainha do fingimento. Não seria uma devoradora de mulheres a primeira a me desvendar. Não tão fácil. Sei que não vi a hora passar, não contei os copos, não notei as ruas, acordei com suas pernas sobre as minhas, com aqueles olhos enormes borrados de rímel ainda me enfeitiçando. Cabeça rodando, fui apanhando cada uma das minhas coisas no chão, ela como de costume, devorando cada gesto meu. Despindo com os olhos cada peça que eu vestia. Não abracei, não me despedi e nem fingi mais. Dei a ela meu sorriso idiota, coisa de gente sincera. Ela não me retribuiu com nada. Era uma desgraçada satisfeita com mais uma conquista. Quase um reflexo.

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